terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Feedback II




A importância de um treinador de guarda-redes numa equipa vai muito para além do treino específico e dos exercícios em si. Muito daquilo que nós nos temos vindo a aperceber é que mais importante que bons exercícios, são bons feedbacks. Nós vemos com frequência o trabalho de outros treinadores de guarda-redes que usam bons exercícios mas que não corrigem os guarda-redes e esses bons exercícios acabam por servir para o guarda-redes treinar os erros e não evoluir como seria de se esperar.

Já falámos anteriormente sobre feedbacks e não nos vamos repetir neste post, onde vamos abordar este tema sobre outras perspectivas.

Primeiro é preciso falar sobre um aspecto psicológico do treino muito importante e que pouca gente tem conhecimento. A mente humana, ou digamos, o nosso subconsciente não reconhece a palavra ‘não’ e se, por exemplo, dissermos a um guarda-redes para “não cair com os cotovelos”, o que a sua mente vai perceber é “cair com os cotovelos” e é isso mesmo que vai acontecer. Ouvi do Prof. Dr. Sidónio Serpa a melhor forma de exemplificar aquilo que quero dizer. Ele disse para não pensarmos num cesto com laranjas e logo de seguida perguntou-nos qual a primeira coisa que nos veio à cabeça. Claro que a primeira coisa em que pensámos foi num cesto com laranjas pois é assim que a nossa mente funciona. Isto acontece a toda a hora e aposto que todos nos lembramos de situações em que isso aconteceu connosco sem que nos tivéssemos sequer apercebido. Por exemplo, quantas vezes não estivemos numa situação em que pensámos “não posso falhar este passe” e a bola vai direitinha aos pés do adversário? E depois pensamos como é possível ter falhado um passe numa situação em que estava totalmente concentrado em não falhar? O problema é que a nossa mente estava concentrada em falhar (lembram-se que ela não reconhece a palavra ‘não’?).

Voltando ao assunto que iniciou este post, é muito importante que o treinador de guarda-redes diga como fazer em vez de como não fazer. E quando disse no início que a importância do treinador de guarda-redes vai muito para além do treino específico, estava a referir-me ao facto de o treinador de guarda-redes poder usar esta forma de abordagem durante todo o treino (treino específico da técnica de guarda-redes e treino integrado com o resto da equipa) de forma a que toda a sessão de treino seja um período de aprendizagem do guarda-redes. Portanto, é preciso que o treinador de guarda-redes não deixe de intervir verbalmente durante o treino integrado com a equipa (sempre de uma forma ‘positiva’ – evitar usar o ‘não’) pois é em situações de jogo (ou formas jogadas) que o guarda-redes põe em prática aquilo que sabe e é aqui que ocorre grande parte da sua aprendizagem / evolução.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Erros comuns nas saídas aos cruzamentos



Existem 3 erros que são bastante comuns nas saídas aos cruzamentos e bolas aéreas em geral e que devem ser corrigidos o mais cedo possível.

O primeiro tem a ver com o joelho que sobe durante a impulsão. Muitos guarda-redes não sabem sequer que há um critério que define qual o joelho que deve estar flectido na fase aérea (da perna contrária àquela que faz a impulsão). A regra é a seguinte: o joelho que sobe é aquele que está mais perto dos adversários, por exemplo, num cruzamento vindo do lado direito do guarda-redes, deve ser o joelho esquerdo a subir pois é o que estará do lado dos atacantes. Isto serve para proteger o guarda-redes dos embates com os outros jogadores.

Outro erro frequente tem a ver com o facto de o guarda-redes não olhar sempre directamente para a bola durante o salto. Muitas vezes, por algum receio do contacto com os jogadores presentes no raio de acção, o guarda-redes tem a tendência para baixar ou virar a cabeça e até mesmo fechar os olhos perto do momento de contacto. É muito importante que o guarda-redes olhe sempre fixamente para a bola até que esta esteja segura nas suas mãos ou seja socada para longe da baliza (e de preferência para onde não estiverem adversários). Desta forma ele consegue calcular mentalmente de uma forma mais precisa a trajectória da bola aumentando consideravelmente as hipóteses de uma intervenção bem sucedida.

Por fim, um erro mais comum nos guarda-redes principiantes, que se prende com o facto de o guarda-redes não indicar ao colegas de equipa que vai tentar intervir sobre a bola. Habitualmente é sob a forma de um grito (‘eu’, ‘minha’ ou a gritar o próprio nome) prolongado e confiante que ele indica que vai tentar ganhar a bola. Isto serve não só para que os seus defesas não tentem também ganhar a bola e desta forma se tornem mais um obstáculo ao guarda-redes no ‘combate’ aéreo pela disputa de bola mas também para intimidar os atacantes adversários para que estes hesitem quando saltam para o cabeceamento. É também importante que o guarda-redes use sempre o mesmo grito para que a sua defesa se familiarize com as suas intervenções.

Todos estes aspectos dependem do treino para se tornarem parte do repertório do guarda-redes. Enquanto os dois primeiros tem a ver com a técnica em si, o 3º já depende mais da experiência e é aquele onde provavelmente o guarda-redes irá errar mais ao longo de toda a sua carreira, portanto é preciso paciência nesse aspecto. Erros irão acontecer sempre, a frequência da sua ocorrência é que irá diminuir com a experiência ganha nos treinos e principalmente, na competição.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Pontapés de Baliza





Tem-se tornado óbvio que a reposição de bola no pontapé de baliza é um dos grandes problemas para os guarda-redes e para os seus treinadores.

O que proponho aos guarda-redes da equipa onde estou a trabalhar é basicamente preocuparem-se primeiro com a técnica. É absolutamente irrisório tentar começar a aplicar força nos batimentos, porque ao bater a bola com força e não conseguir imprimir uma trajectória alta, provoca inevitavelmente o contra-ataque adversário.

O meu ponto de vista em relação ao batimento de bola é muito semelhante à execução de um passe alto por um jogador de campo. Ou seja, o pé de apoio colocado ao lado da bola, o tronco ligeiramente inclinado para trás, a zona do pé que toca na bola e a zona da bola onde toca o pé. Estes dois últimos pontos, para mim, são o cerne da questão. A minha experiência neste tipo de execução técnica e após consulta de vários autores, leva-me a concluir que a zona do pé que deve tocar na bola é maioritariamente o peito do pé, sem nunca esquecer que o pé deve atacar a bola lateralmente e não de frente. A zona do pé atrás referida, deve bater a bola na parte inferior central, ou seja, entre o meio e o relvado.

Não é demais referir que alguns estudos biomecânicos mostram que a aceleração da perna é também importante. Muitas vezes vemos jovens guarda-redes a fazerem grandes corridas de balanço para marcarem o pontapé de baliza, o que demonstra que a noção de aceleração está presente, mas de forma incorrecta. Este é mais um de muitos pormenores que devem ser trabalhados desde cedo.

Após a aquisição do gesto técnico correcto, podemos então introduzir no processo de treino a noção de força.

Em jeito de conclusão, no pontapé de baliza, é mais importante o último passo do que grande corridas de balanço.

Que posição deve assumir o guarda-redes quando é um colega de campo a marcar o pontapé de baliza?

Mais uma vez descrevo o meu ponto de vista, em relação a este assunto. Vemos frequentemente nas equipas de formação os defesas centrais a marcar o pontapé de baliza, devido à incapacidade (sobretudo técnica) do guarda-redes para o fazer. No futebol profissional isto também acontece, mas derivado de problemas físicos.
Defendo nestes casos, que o guarda-redes se deve posicionar entre a marca do penalti e a linha da pequena área. Simplesmente porque, se no caso do colega bater mal a bola, o guarda-redes encontra-se numa posição que o permite sair rápido para situação de 1x1 com o avançado e não se encontra demasiado avançado para sofrer um “chapéu”.