Nunca é demais lembrar a importância que o trabalho de pés, no que diz respeito à técnica individual, tem no jogo contemporâneo e aqui podemos ver um exemplo comum do que podemos fazer sem grandes recursos para trabalhar este aspeto no guarda-redes.
Até aos 2'40'' do vídeo podemos ver uma série de exercícios de passe, receção e controlo de bola.
Daí até aos 3'50'' vemos um trabalho de alongamento que não sei se lhe podemos chamar de alongamentos dinâmicos ou funcionais nem tão pouco se é um trabalho aconselhado em termos fisiológicos. A esta altura o guarda-redes já está 'quente' e não considerando aqueles alongamentos demasiado exigentes (que não o devem ser no início da sessão do treino de guarda-redes devido à exigência do mesmo em termos explosivos), não vejo nenhum mal que possa haver mas deixo este ponto aberto para discussão.
O exercício seguinte já o acho algo discutível. Nada a apontar para o teor técnico, trabalho de primeiro toque completamente válido mas acho a exigência fisiológica do mesmo um pouco exagerada. Gosto que os treinos tenham uma especificidade grande, principalmente ao nível sénior e tenho a certeza que aquele esforço raramente é reproduzido num jogo mas tenho noção que podemos muitas vezes trabalhar a curva de supercompensação do treino de forma a optimizar ganhos, ainda assim, acho que os exercícios devem ser feitos a 100% com vários intervalos, nunca com durações que façam com que as últimas ações do guarda-redes já sejam a 80 ou 75%, uma vez mais, tendo em conta um trabalho de máxima especificidade. Ainda assim, faço disto um comentário e não uma crítica porque apenas o próprio treinador sabe o porquê de realizar um determinado exercício ou treino, pois nós estamos a ver esta sessão de uma forma completamente descontextualizada.
A partir daqui, Memo Valencia já usa exercícios com combinações de várias ações técnicas onde acho a proporção do esforço excelente, com repetições de 3 ações a alta intensidade, que é mais próximo daquilo que o guarda-redes pode encontrar num jogo. Como é evidente, podemos sempre argumentar que há sempre a possibilidade de um guarda-redes num jogo possa ter de agir mais de 3 vezes seguidas mas as vezes que tal acontece é tão rara que não considero relevante para fazer disso rotina num treino.
Nos últimos exercícios, só duas notas. A primeira, o facto do guarda-redes estar a bater as bolas do meio campo para a baliza. Em termos de especificidade, é óbvio que isto não faz sentido mas eu creio que a razão de isto acontecer tem apenas a ver com um aspeto funcional do próprio treino. Com o guarda-redes a bater a bola para a baliza (ou linha de fundo), as bolas ficarão (se tudo correr bem) na baliza e se não, em muitos casos ficaram lá perto pelo que é mais fácil para recolher as bolas para repetir. Com o tempo que se poupa com este processo (não tendo ninguém que assegure a receção das bolas) acho que o exercício ganha em rentabilidade o que perde em especificidade, embora esta relação seja sempre subjetiva. A outra nota vai para a ação do guarda-redes que ao receber as bolas altas no peito, não as deixa completamente dominadas e a sua postura deixa entender que não se preocupa em manter a bola junto dos pés. Este tipo de ação não é preocupante se o adversário estiver a 40 metros mas é muito perigosa se este só estiver a 20 metros dele. É um aspeto que acho muito importante os guarda-redes se preocuparem em dominar para que os seus defesas e médios tenham confiança neles no processo ofensivo.
Guillermo Valencia, também conhecido por Memo Valencia, foi guarda-redes profissional na Colômbia (onde chegou a ser campeão), tendo depois passado pelo México e terminado a carreira nos Estados Unidos. Foi treinador adjunto na Columbia University e New York University, tendo sido depois treinador de guarda-redes das seleções nacionais sub-17 e sub-18 dos Estados Unidos e da Seton Hall University, tendo no início de 2013 sido chamado para a equipa principal do New York Cosmos, onde é o treinador de guarda-redes.
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