sábado, 5 de fevereiro de 2011

René Higuita


Ninguém no mundo pode ficar indiferente à carreira e figura de Higuita e este foi mesmo um símbolo, ao longo dos anos, dos guarda-redes, dotado de uma personalidade muito particular que transparecia na sua forma de jogar. Arrisco-me mesmo a dizer que este 'tipo' de guarda-redes extinguiu-se em 2009, quando Higuita terminou a sua carreira de jogador. No futebol actual, há cada vez menos espaço para excentricidades e pretende-se que tudo seja muito seguro e previsível no que aos guarda-redes diz respeito.

Não nos podemos esquecer que a excentricidade de um guarda-redes tem limites e Higuita quebrou esses limites (por várias vezes) na sua carreira, sendo o exemplo mais conhecido o Mundial de 1990 em Itália mas também não é menos verdade que Higuita teve uma carreira recheada de conquistas, entre as quais uma Copa dos Libertadores e uma Copa Interamericana (não falando das 68 internacionalizações e respectivos 3 golos pela Colômbia).

O que caracterizou Higuita foram a sua habilidade para concretizar penaltis e livres directos, a famosa 'defesa de escorpião' e a sua tendência para sair da baliza para interceptar a bola e sair a jogar com ela nos pés. Relativamente aos esquemas tácticos, eu não me oponho à marcação dos mesmos pelos guarda-redes, desde que sejam especialistas e que a equipa tome as devidas precauções para a hipótese de o guarda-redes falhar. Quanto à 'defesa de escorpião', de facto foi um momento marcante na história do futebol e uma delícia aos olhares dos amantes da modalidade mas também não é menos verdade que era uma defesa completamente inútil, demasiado arriscada e muito pouco eficaz. Por fim, no que diz respeito às saídas de Higuita da baliza, acho que há muito a falar. De facto era fantástica a capacidade de Higuita sair da baliza e excentricidades à parte, foram inúmeros os lances de contra-ataque neutralizados por ele pelo que em termos tácticos, esta sua capacidade de ler o jogo poderá ter sido muito bem aproveitada pelos seus treinadores... o problema é que as intercepções não ficavam por aí. Ou será que isso era um problema?

Uma acção de penetração do guarda-redes logo após a recuperação da bola, quando os adversários estão em contra-pé, pode criar grandes desequilíbrios à equipa adversária que tem os seus jogadores desposicionados e como tal, concede mais espaços no campo para serem explorados (veja-se o exemplo das penetrações de David Luiz, do Benfica, na época passada, que tantos problemas dava aos adversários, principalmente àqueles que utilizavam marcações individuais). Mas para que isto fosse possível, seria necessário que o guarda-redes fosse rápido, tivesse uma excelente capacidade de drible e condução de bola e uma boa visão de jogo. Mas se os jogadores de campo que dominem estas capacidades não abundam... dificilmente aparecerá um guarda-redes que as possua, principalmente quando o seu treino, que é especializado cada vez mais cedo, seja tão condicionante àquilo que o futebol moderno exige dos guarda-redes que é acima de tudo segurança, nunca o risco.

Até que ponto este tipo de acções deve ser promovida nos guarda-redes que possuem capacidades para tal?

E já agora, com todas as polémicas de parte que caracterizaram a carreira (e a vida) deste ícon do futebol mundial, vão os meus mais sinceros parabéns à carreira de Higuita que terminou apenas no início deste ano, após 24 anos como profissional (aos 44 de idade). Alguém que tanto contribuiu à promoção do futebol, não pode ser esquecido na história.



Foto: http://www.guardian.co.uk/football/blog/2009/sep/03/feet-of-the-chameleon

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